Liderança Tecnológica face à IA e à Cultura de Cancelamento
1 Dec
Felizmente, alguns líderes antecipam soluções cruciais: Sam Altman usa a criptografia para proteger os humanos da IA, e Elon Musk muda modelos de negócios e mobiliza a comunidade para prevenir o cancelamento da divergência.
Depois do Conselho de Administração da OpenAI ter despedido Sam Altman, acusando-o de “não ser consistentemente sincero”, muitos colaboradores da empresa que criou o ChatGPT demitiram-se ou ameaçaram fazê-lo, a menos que o seu CEO fosse reintegrado. Segundo as notícias, a origem desta situação foi a tensão registada dentro da OpenAI entre os que defendem um desenvolvimento rápido da inteligência artificial (IA) e os que preferem avançar de forma mais lenta e cautelosa. Entretanto, o novo conselho de administração da OpenAI decidiu readmitir Sam Altman e muitos esperam que ele faça escolhas acertadas sobre o rumo de tão poderosa tecnologia. Como ele afirma, “[O ChatGPT-4] é uma ferramenta em grande parte sob controlo humano. Espera que alguém dê um input, e o preocupante é quem controla esses inputs.” É difícil não concordar com estas palavras, pois a IA está a mudar o mundo a uma velocidade nunca vista, aconselhando-nos a estar muito atentos à forma como ela é governada.
Paralelamente, na mesma semana, Elon Musk fez na rede social X (anteriormente Twitter) um comentário que muitos consideraram “inadequado”, levando ao anúncio de boicote publicitário por parte de grandes anunciantes que ameaçaram “cancelar” o homem mais rico do mundo, pedindo mesmo o seu afastamento das empresas que criou, o que nos leva diretamente ao cerne da questão.
Tanto na IA quanto nas redes sociais, é perigoso optar por modelos de negócio que dependem da exploração de dados dos utilizadores, especialmente quando entram em cena algoritmos sofisticados que aprendem a influenciar comportamentos. Não foi coincidência o Facebook ter removido o botão de “não gosto”, estando agora todos os polegares desta rede apontados para cima, promovendo apenas reações entusiastas em que as pessoas confirmam estar corretas, ser solidárias e apreciadas. Afinal, a concordância é mais sedutora do que a discordância, pelo que os algoritmos dos modelos de negócio publicitários aprendem como alimentar essa sedução, visando maximizar o tempo dispendido pelos utilizadores nas redes sociais e otimizar a “monetização” da sua atenção através da publicidade.
É por isso que as redes sociais muitas vezes promovem conteúdos que polarizam e alienam os utilizadores, pintando um mundo unidimensional que visa agradar a cada indivíduo validando as suas crenças e emoções. Fazem-nos esquecer que outros partidos também podem ter boas ideias, que outros clubes também podem ter bons jogadores, e que as outras religiões também podem ter a sua fé. Encorajam-nos a fazer generalizações injustas e perigosas, retratando uma realidade simplista e conveniente. Infelizmente, as coisas podem não ficar por aqui, pois, com a IA, os algoritmos do modelo de negócio publicitário tornam-se potencialmente mais nefastos, intensificando estereótipos e levando a uma sociedade que cancela sistematicamente a divergência. Sintomaticamente, mesmo com a inteligência artificial na sua fase inicial, os algoritmos usados nas estratégias de negócio publicitário das redes sociais já limitaram consideravelmente a diversidade de ideias, contribuindo para o aumento da intolerância e do crescimento da violência.
Felizmente, alguns líderes são capazes de antecipar soluções. Sam Altman entende o potencial da criptografia avançada e parece desejar proteger a humanidade contra os riscos da IA, como visto no projeto global Worldcoin, que utiliza uma abordagem descentralizada para impedir a IA de nos manipular fingindo ser humana. Contudo, a IA aprenderá a fazer cálculos de molde a quebrar qualquer código, sendo crucial impedi-la de cair em mãos erradas. Assim, a comunidade global precisa de se manter um passo à frente na corrida contra quem usar indevidamente a IA. Elon Musk está a ajudar à concretização desse passo ao mudar o modelo de negócio da rede social X, adotando um sistema de subscrição (contra a opinião de muitos) que reduz a dependência face a eventuais regras impostas pelos anunciantes, bem como ao instituir a funcionalidade “Community Notes” que permite serem os próprios utilizadores a contribuir com anotações e informações contextuais sobre publicações para promover a veracidade e o entendimento coletivo, sem censuras nem cancelamentos.
Quanto à solução de interromper o desenvolvimento da IA, defendida por alguns, acredita-se que seria contraproducente, já que nem todos fariam o mesmo, criando um vácuo muito perigoso que os inimigos da democracia e da liberdade poderiam explorar. Além disso, é praticamente impossível parar o progresso da IA. Neste contexto de desenvolvimento inevitável, uma abordagem descentralizada, baseada em criptografia, é a solução mais benéfica, proporcionando a abertura necessária para obter conjuntos de treino mais vastos, indispensáveis à liderança competitiva, assegurando, ainda assim, a transparência indispensável para a validação humana dos processos da IA. Esta abordagem é crucial para garantir o uso ético da IA e evitar o reforço de uma cultura de cancelamento na era digital.
Dário de Oliveira Rodrigues
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